O designer gráfico Luciano Cunha percorreu a via crucis de todo quadrinhista talentoso com uma ideia na cabeça e um pincel na mão. Bateu à porta de várias editoras e recebeu as negativas de praxe.
No seu caso, há uma agravante. O Doutrinador é protagonizado por um tipo específico de justiceiro: um assassino a sangue-frio de políticos corruptos e daqueles que se empoleiram no poder para benefício próprio.
No primeiro tratamento da obra, lembra Luciano no posfácio, ele manteve não só a aparência das vítimas, conhecidos políticos brasileiros, mas também seus nomes verdadeiros. Não é mesmo o tipo de trabalho que uma editora aceitaria.
A saída foi publicar na internet, já com mudanças, primeiro na linha do tempo do autor no Facebook, depois numa fanpage (que conta hoje com mais de 34 mil seguidores), e finalmente num site próprio.
Os primeiros capítulos de O Doutrinador começaram a ser postados em abril de 2013. Dois meses depois, as manifestações de rua que se espalharam por todo o país potencializaram a audiência do personagem.
O Doutrinador ganha cada vez mais a atenção da imprensa com matérias publicadas em diversas revistas e sites nacionais e internacionais:
ROLLING STONE - Argentina
JORNAL METRO
COMPUTER ARTS
VOCATIVE - Nova York
ROAR MAGAZINE - Reino Unido
89 FM
MALDITA Rádio Fluminense
MONDO VAZIO
ROCK PRESS
REVISTA MUNDO DOS SUPER HERÓIS
O GLOBO - PAÍS
UNIVERSO INSÔNIA
ROADIE CREW
Sobre o Doutrinador
Um dia, não se sabe a data ao certo, um velho soldado do Exército brasileiro decidiu deixar sua aposentadoria, após "quase 40 anos vivendo como um esboço, um rascunho", para uma nova missão, "a mãe de todas as batalhas". Seu uniforme, ao invés da farda verde camuflada, passou a ser uma grande máscara de oxigênio e um casaco com capuz para não ser reconhecido. Do Exército sobraram as botas de couro e os fuzis, dessa vez usados para travar uma guerra —sua guerra— dentro do Brasil contra um inimigo interno: a corrupção. A primeira vítima dessa aventura foi um pastor deputado, assassinado em um quarto de hotel; a segunda, um velho senador que descansava em uma praia do norte. Este justiceiro quer limpar o país de seus dirigentes corruptos e não há negociação ou propina que o detenham:
— E-Eu te pago para me soltar!! Quanto é??
— Não quero seu dinheiro, secretário. Quero que o senhor trabalhe! Só isso. Trens como currais humanos... Ônibus assassinos sem nenhuma fiscalização... Metrô superfaturado e superlotado... Barcas com problemas todos os dias...
— Eu vou mudar tudo!! Eu juro! Eu prometo!
— Não secretário... Eu acho que a mudança virá com seu sucessor... Ou irei atrás dele também.
— E-Eu te pago para me soltar!! Quanto é??
— Não quero seu dinheiro, secretário. Quero que o senhor trabalhe! Só isso. Trens como currais humanos... Ônibus assassinos sem nenhuma fiscalização... Metrô superfaturado e superlotado... Barcas com problemas todos os dias...
— Eu vou mudar tudo!! Eu juro! Eu prometo!
— Não secretário... Eu acho que a mudança virá com seu sucessor... Ou irei atrás dele também.
O Doutrinador já rendeu alguns "mal-entendidos ideológicos" para Cunha, que se irrita de ter que explicar sobre a ideologia de seu personagem. "O viés que as pessoas tomam para ele é político, mas pro Batman, porque é o Batman, é o viés de entretenimento, de diversão. Em O Cavalheiro das Trevas, ele é um milionário que caça bandidos pobres... Usa todo o seu aparato, força e dinheiro para fazer justiça com as próprias mãos. Mas dizem: 'ah, isso é só quadrinho'. Porra, maso meu também é só um quadrinho!", explica o autor. Muitos dizem que ele desenhou um personagem fascista; outros, de extrema esquerda ou libertário. Na verdade, sua intenção era criar um protagonista maluco, um vingador completamente desequilibrado. "Ele simplesmente caça e mata os políticos de todos os lados. É um lunático. Ao invés de olhar a questão partidária ou ideológica, as pessoas devem ver o lado psicológico dele: nada justifica o que ele faz".
O público de O Doutrinador não é composto pelos típicos aficionados por quadrinhos. É mais abrangente, explica ao autor, para quem o que atrai esse público é menos a arte e mais o sentimento de que "alguma justiça" —atenção às aspas— estava funcionando contra os corruptos.
Depois do sucesso no Facebook, a primeira temporada de O Doutrinador migrou para o site oficial do personagem na Internet. O sucesso da história animou Cunha a publicar a segunda temporada a partir de abril de 2014, intitulada "Dark Web". Dessa vez, contou com a ajuda do músico Marcelo Yuka (ex-baterista de O Rappa), que teve a ideia do roteiro. Além de publicar as duas temporadas pela Red Box, o autor filmou em março deste ano um piloto de série e sua produção está sendo negociada com um canal fechado.
Cunha já idealizou uma terceira temporada, mas admite que "quer dar um tempo". Apesar de ter começado cedo no mundo dos quadrinhos —"com 16 anos estava com o Ziraldo fazendo a revista do Menino Maluquinho"—, sua arte ainda não lhe sustenta. Trabalha com ilustração em uma agência de publicidade e se dedica a seu personagem durante seu tempo livre. "Publicava três paginas por semana, as vezes até cinco. E me tornei pai agora, então é muito cansativo". Além da possível série de televisão, sua obra também está sendo transformada em um jogo de videogame e um RPG. "Tenho plena consciência de que, só com quadrinho, não dá. Mas ele virando outra mídia, posso me dedicar só a ele. É o sonho de qualquer quadrinista no mundo todo".
Em dezembro deste ano (2015) Luciano Cunha estará junto com o quadrinista Péricles Junior no evento #FamilyGeekBrasil realizando uma palestra sobre Hqs nas redes sociais, com ótimas dicas para você que pretende entrar nesse ramo. Será no dia 12/12 as 13:00 e a entrada será GRATUITA!
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