quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ser GEEK ou NERD virou moda?

Anos atrás ser chamado de Nerd era uma espécie de ofensa. Obviamente, como aponta Norbert Elias no livro “Os Estabelecidos e os Outsiders”, o termo assume conotação pejorativa para o grupo que tenta ofender o outro: como alguém “chama” o outro de “preto” ou “gringo” e coisas do tipo. Com o tempo, as pessoas que eram chamadas de Nerds passaram a adotar o que antes era xingamento como uma referência ao grupo: o termo passou a referenciar pessoas com gostos em comum, geralmente associados a uma cultura específica, sendo que as de maior sucesso são a Fantasia e a Ficção Científica. Com o tempo os Nerds passaram a se estabelecer efetivamente como um grupo de fato, porém ainda estimulando uma visão negativa das pessoas de fora do grupo. O termo Geek – com significado etimológico que faz referência a “bobo” ou “anormal” – passou a ser uma espécie de sinônimo, principalmente quando a pessoa se demonstrava viciada em certas culturas de nicho, como Star Wars, Tolkien, Star Treck e coisas do tipo.




Porém, nos últimos anos surgiu uma nova imagem de Nerd ou Geek, estimulada pelos meios de comunicação, onde essa “tribo” se tornou legal. Estimulada principalmente pelo aumento do acesso à tecnologia nos últimos anos – e alguns outros fatores – a cultura média passou a aceitar mais abertamente esse traço cultural. Se antes eram poucos os leitores de “O Senhor dos Anéis”, hoje é estranho alguém falar que não conhece o filme. Os vídeo games se tornaram praticamente eletrodomésticos, se tornando item quase que obrigatório numa residência. Figuras como Bill Gates e Steve Jobs, considerados esquisitos anteriormente, se tornaram a personificação do sucesso. Ser Geek agora é legal! Os que se sentiam mal com o termo chegaram a cunhar até o termo Geek Chic. Mas de fato, a “cultura nerd” está sendo mais aceita, ou é uma questão de moda? Marx talvez tenha um palpite.

Para citar um exemplo, no Brasil histórias em quadrinhos e desenhos animados sempre foram considerados como “coisas de criança”. As pessoas que se “apaixonavam” por essas manifestações e mantinham seu gosto até a maturidade, eram vistas com certo estranhamento. Esse interesse específico visto como algo fora do padrão esbarra na dificuldade de ter demandas atendidas pelo mercado. Para a grande maioria das pessoas era estranho um adulto de 20 e poucos anos buscar todo mês a edição de Homem-Aranha na banca da esquina, ou assistir entusiasmado a um novo episódio de “Cavaleiros do Zodíaco”. Esse tipo de situação leva as pessoas que compartilhavam esses interesses a buscar a satisfação destas demandas em “lugares não-comuns”: buscavam no exterior, copiavam fitas cassetes uns dos outros e, com o advento da internet, baixavam vídeos de desenhos animados que não passavam aqui e faziam suas próprias legendas. Ela depende da moda como uma renovação constante da produção de novos bens.
O “problema” que pessoas com interesses muito específicos e com pouco atendimento do mercado sofrem é de se tornarem fiéis as mercadorias relacionadas ao seu interesse: pela dificuldade de encontrá-las, elas se tornam compradores contumazes das mercadorias ligadas ao seu interesse específico. E como tudo no Capitalismo pode virar investimento, depois de muitos anos, isso chamou a atenção de investidores...

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