Anos atrás ser chamado de Nerd era uma espécie de ofensa. Obviamente,
como aponta Norbert Elias no livro “Os Estabelecidos e os Outsiders”, o
termo assume conotação pejorativa para o grupo que tenta ofender o
outro: como alguém “chama” o outro de “preto” ou “gringo” e coisas do
tipo. Com o tempo, as pessoas que eram chamadas de Nerds passaram a
adotar o que antes era xingamento como uma referência ao grupo: o termo
passou a referenciar pessoas com gostos em comum, geralmente associados a
uma cultura específica, sendo que as de maior sucesso são a Fantasia e a
Ficção Científica. Com o tempo os Nerds passaram a se estabelecer
efetivamente como um grupo de fato, porém ainda estimulando uma visão
negativa das pessoas de fora do grupo. O termo Geek – com
significado etimológico
que faz referência a “bobo” ou “anormal” – passou a ser uma espécie de
sinônimo, principalmente quando a pessoa se demonstrava viciada em
certas culturas de nicho, como Star Wars, Tolkien, Star Treck e coisas
do tipo.

Porém, nos últimos anos surgiu uma nova imagem de Nerd ou Geek,
estimulada pelos meios de comunicação, onde essa “tribo” se tornou
legal. Estimulada principalmente pelo aumento do acesso à tecnologia nos
últimos anos – e alguns outros fatores – a cultura média passou a
aceitar mais abertamente esse traço cultural. Se antes eram poucos os
leitores de “O Senhor dos Anéis”, hoje é estranho alguém falar que não
conhece o filme. Os vídeo games se tornaram praticamente
eletrodomésticos, se tornando item quase que obrigatório numa
residência. Figuras como Bill Gates e Steve Jobs, considerados
esquisitos anteriormente, se tornaram a personificação do sucesso. Ser
Geek agora é legal! Os que se sentiam mal com o termo chegaram a cunhar
até o termo Geek Chic. Mas de fato, a “cultura nerd” está sendo mais
aceita, ou é uma questão de moda? Marx talvez tenha um palpite.
Para citar um exemplo, no Brasil histórias em quadrinhos e desenhos
animados sempre foram considerados como “coisas de criança”. As pessoas
que se “apaixonavam” por essas manifestações e mantinham seu gosto até a
maturidade, eram vistas com certo estranhamento. Esse interesse
específico visto como algo fora do padrão esbarra na dificuldade de ter
demandas atendidas pelo mercado. Para a grande maioria das pessoas era
estranho um adulto de 20 e poucos anos buscar todo mês a edição de
Homem-Aranha na banca da esquina, ou assistir entusiasmado a um novo
episódio de “Cavaleiros do Zodíaco”. Esse tipo de situação leva as
pessoas que compartilhavam esses interesses a buscar a satisfação destas
demandas em “lugares não-comuns”: buscavam no exterior, copiavam fitas
cassetes uns dos outros e, com o advento da internet, baixavam vídeos de
desenhos animados que não passavam aqui e faziam suas próprias
legendas. Ela depende da moda como uma renovação constante da produção
de novos bens.
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O “problema” que pessoas com interesses muito específicos e com pouco
atendimento do mercado sofrem é de se tornarem fiéis as mercadorias
relacionadas ao seu interesse: pela dificuldade de encontrá-las, elas se
tornam compradores contumazes das mercadorias ligadas ao seu interesse
específico. E como tudo no Capitalismo pode virar investimento, depois
de muitos anos, isso chamou a atenção de investidores...